Memória feliz do Padre Luís Gonzaga Magalhães Uchoa

*Profa. Tânia Couto, ex-aluna do Pe. Luís Uchoa, recorda sua páscoa e relata a extraordinária pessoa do biblista e sua capacitação na Palavra de Deus

No dia 23 de junho celebramos a Páscoa do Padre Luís Gonzaga Magalhães Uchoa. Cedo foi levado de nosso convívio, com apenas 65 anos de idade, há, exatamente, 24 anos. Foi o único professor doutor pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma) que aqui exerceu o magistério. Lecionou todas as disciplinas da área de Teologia Bíblica, deixando em seus alunos a certeza de que estavam diante de um grande conhecedor da Sagrada Escritura que entrementes manifestava, mais ainda, o amor pela Palavra de Deus e o dom de ensinar. A esta causa dedicou sua vida.

Deixava em seus alunos a certeza de que estavam diante de um grande conhecedor da Sagrada Escritura que entrementes manifestava, mais ainda, o amor pela Palavra de Deus e o dom de ensinar. A esta causa dedicou sua vida.

Sendo um dos fundadores do então ICRE, junto ao Mons. Manfredo Ramos, formou toda geração de presbíteros desde 1964, não somente desta Arquidiocese, mas de todo o Regional Nordeste I que compreendia os Estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Ao morrer ocupava a função de diretor da Biblioteca do Seminário da Prainha, a qual, merecidamente, recebe seu nome.

Muito mais que um homem sábio era um mestre da simplicidade e da humildade. Sua vida transbordava do anseio de fazer a Palavra conhecida e vivida.

Pe. Uchoa, como era carinhosamente chamado, era uma pessoa de muitos amigos. Muito mais que um homem sábio era um mestre da simplicidade e da humildade. Sua vida transbordava do anseio de fazer a Palavra conhecida e vivida. São estas raízes que ainda alimentam seus ex-alunos. Que neste dia a homenagem da FCF ao querido mestre, como incenso, suba ao coração da Trindade Santíssima como um TE DEUM.

Tânia Maria Couto Maia é Doutora em Teologia Bíblica e Professora de Teologia na Faculdade Católica de Fortaleza – FCF.

80 Anos – Pe. Zezinho, SCJ

“Das muitas coisas do meu tempo de criança, guardo vivo na lembrança”. “Eu era pequeno, nem me lembro, só lembro” que desde muito cedo escutei a voz vibrante de um padre no rádio a tocar. Para que eu dormisse, minha mãe cantava “cantigas de niná” e, quando eu despertava, lá estava aquela voz a cantar. “Depois fui crescendo, eu me lembro”, e fui aprendendo alguns daqueles versos que tanto me embalaram.

Foi aquela voz que me deixou fascinado por “um certo galileu”, um “jovem pregador que tinha tanto amor”. A voz daquele padre me fez conhecer um tal Jesus de Nazaré, que por amor aos homens se encarnou, fez o bem por onde passou, e “um certo Reino” anunciou.

Hoje, consigo compreender que o Reino é Ele mesmo, e para “a festa” todos somos convidados, porém, só contemplará a face de Deus aquele que for capaz de “amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu”.

Que verdade de fé! Um Deus feito homem que, da culpa nos resgatou e com seu sangue nos lavou. Este mesmo Jesus quis conosco ficar, e “por um pedaço de pão e um pouquinho de vinho”, vem em cada Eucaristia nos alimentar. “Somos a Igreja do pão”, nosso coração é o altar. “Eu não sou digno”, mas “também sou teu povo, Senhor”. “A Ti, meu Deus, elevo meu coração” e suplico diariamente: “põe Teu Coração no meu!”.

Foi aquela voz também que me ensinou a amar e venerar “Maria de Nazaré”, a “primeira cristã”, a mulher que soube, em tudo, fazer a vontade de Deus e, por isso, é modelo para quem quer ser discípulo de seu filho Jesus. Ah! “Como é bonita uma religião que se lembra da mãe de Jesus!” Na escola de Jesus, foi Maria quem me ensinou que “orar costuma fazer bem”, pois para aquele que crê, a fé em Cristo não é uma “utopia”.

Oh, que voz venturosa! Tantas verdades de fé ela já me ensinou… uma voz que ressoa no coração de quem vem da cidade ou “de lá do interior”. Voz que clama por justiça, amor e fraternidade. Voz que nem mesmo a idade ou os ventos impetuosos conseguiram calar. Voz de um “rouxinol”, que não se orgulha do que se tornou, mas se reconhece como uma “águia pequena que nasceu para as alturas”, sem tirar os pés da realidade dura e sofrida da nossa gente.

Neste dia de júbilo, “eu canto esta canção de amor” louvando a Deus por tua vida e missão, Pe. Zezinho, scj. Rezo para que o Espírito Divino, o sopro de Deus, que “é forte, é suave, é quente”, que é “água viva, vida nova”, continue soprando em ti os seus santos dons, a fim de que, por meio de sua bela voz, e de sua vida doada pelo Reino, muitos “irmãos e irmãs aos milhões” sintam “que o tempo chegou”, e a Jesus entreguem o leme de suas barcas, suas vidas.

Autor: José Augusto Leitão Brasileiro – Seminarista da Arquidiocese de Fortaleza. Bacharel em Filosofia e Bacharelando em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza – Fortaleza, 08/06/2021.

Como a Ciência e a Filosofia podem nos orientar em tempos de relativismo?

Prof. Halwaro Freire* diz que em tempos de relativismos, faz-se
necessário explicitarmos o papel da verdade no desenvolvimento da sociedade.

Em tempos de inquietações e dúvidas sobre o papel da Ciência na sociedade por parte de alguns, a Filosofia, que tem como principal característica o pensar crítico-argumentativo, pode nos orientar a elucidar algumas dessas questões. Longe das imagens do senso comum de um indivíduo no “mundo da lua” fazendo perguntas sem sentido (filósofo) ou de um sujeito de jaleco branco dentro de um laboratório “mirabolando” teorias (cientista) essas duas esferas do saber são essenciais num mundo onde as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que uma notícia verdadeira (2017, p.12). Tanto a Filosofia como a Ciência são áreas em que um determinado indivíduo ou grupo se especializa, apura, refina, averigua e elabora um conhecimento com base em argumentos, experiências, princípios e conceitos a fim de formularem teorias sobre aquilo que se debruçaram.

“A opinião que temos sobre um determinado
assunto, sem a devida apuração e argumentação,
não faz parte de um conhecimento científico e
e nem filosófico”

Certamente, um tocador de piano conhece mais seu próprio instrumento que um médico que não toque, por exemplo. Este último, domina as técnicas que se especializou durante as pesquisas. Não se quer aqui que se pense que o tocador de piano é superior ou melhor do que o médico, apenas queremos fazer notar que ambos possuem um conhecimento: apurado, refinado, averiguado e elaborado sobre sua área de atuação. Ora, a Filosofia e a Ciência são áreas que também se debruçam sobre seus objetos e que formam um conhecimento sobre os mesmos. Ambas, Ciência e Filosofia, “partem” de uma visão do senso comum da realidade, ou seja, da visão menos apurada da realidade, menos refletida e mais prática. Contudo, essas áreas do saber começam a elaborar um tipo de conhecimento que possui um grau de reflexão e investigação mais aprofundado.

“Não nos deixemos enganar, o que é produzido pela
Ciência não pode ser refutado com um simples
ceticismo e o que é escrito por um(a) filósofo(a)
não é apenas uma mera afirmação”.

A opinião que temos sobre um determinado assunto, sem a devida apuração e argumentação, não faz parte de um conhecimento científico e nem filosófico. Muitas vezes, quem profere a simples afirmação “Não existe aquecimento global, pois onde estou está frio” não utiliza os critérios mínimos de verdade da Ciência, como os já mencionados acima. Porém, afirmações como estas estão cada vez mais comuns. Alicerçados pelas plataformas digitais, como, facebook, instagram ou whatsapp, muitas informações sem a devida apuração, argumentação e reflexão, características das formas de saber científico e filosófico, se propagam numa velocidade sem freio. Não nos deixemos enganar, o que é produzido pela Ciência não pode ser refutado com um simples ceticismo e o que é escrito por um(a) filósofo(a) não é apenas um mera afirmação. Cabe ao filósofo e ao cientista a missão, mais uma vez, difícil, de demonstrar que seus conhecimentos “servem” para desenvolver uma sociedade e que a negação simplista destas áreas apenas adoecem uma cultura.

REFERÊNCIA: CHALMERS, A.F. O que é Ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense. 1993.
NELSON, J. L.Is ‘fakenews’afakeproblem? Columbia JournalismReview, 31.2017.

Hálwaro Carvalho Freire, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, com sanduíche na Martin Luther Universität Wittenberg, professor da Faculdade Católica de Fortaleza – FCF e pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Brasileira. Atualmente é pós-doutorando pela Universidade do Porto (Portugal).
Fale com o Autor: halwarocf@yahoo.com.br

A Bíblia e a experiência com Deus: luz nos caminhos de ontem e de hoje

A aluna Kelviane Vieira* diz que este é o ponto alto da forte e inesquecível conexão do povo de Israel com Deus e o que gerou nesse povo uma experiência profunda e autêntica.

É oportuno ao ser humano que a Bíblia não seja apenas um livro de perguntas e respostas para as crises e questionamentos do mundo, como uma espécie de “google” compilado, isso a tornaria um livro comum a qualquer outro colocando-o em vista de respostas instantâneas e um entendimento relativista.

Além de ter sido escrito há muitos anos, fora do contexto em que vivemos, a finalidade do texto bíblico é gerar intimidade e proximidade com aqueles que com ele se relacionam e, certamente, a simples busca de respostas, com o intuito de sanar questionamentos não fomentaria tal relação.

A finalidade do texto bíblico é gerar intimidade e proximidade com aqueles que com ele se relacionam.

Por outro lado, sendo atualizado, o texto bíblico tem o poder, enquanto palavra divina, de iluminar a realidade humana em todo e qualquer contexto em que for utilizado, desde que intrínseco à busca do texto, esteja a experiência de fé.

Assim, se voltarmos o olhar acerca da história do povo da bíblia perceberemos a busca constante de Deus por seu povo, sempre firmada por um propósito: “Vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (Jr 30,22) uma relação de pertença e intimidade constituída na aliança entre Deus e o ser humano. Podemos dizer que esse seja o ponto alto da forte e inesquecível conexão do povo de Israel com Deus e o que gerou nesse povo uma experiência profunda e autêntica.

Relação de pertença entre Deus e o Homem: podemos dizer que esse seja o ponto alto da forte e inesquecível conexão do povo de Israel com Deus e o que gerou nesse povo uma experiência profunda e autêntica.

Fazendo uma comparação com o contexto em que vivemos, talvez possamos tomar como norte o Exílio vivido pelo povo da bíblia “o Exílio foi um desafio para o povo” (TILLESSE, 1984, p. 81) e diante deste desafio se fazia necessário compreender a presença e o zelo de Deus mesmo em meio àquele “castigo”.

É no Exílio que o povo da bíblia aprende uma nova maneira de viver sua fé, aprende a perceber que a presença de Deus não se restringe somente à terra, à Cidade Santa ou ao templo, mas está viva no povo cuja pertença a Deus fora estabelecida pela aliança. Deste modo, a aliança permanece viva “de uma maneira que o povo não entendia bem, mas que Deus, secretamente, lhe revela” (TILLESSE, 1986, p. 37).

Um período extremamente desafiador ao povo, mas profundamente fecundo onde este compreendeu sua real vocação e percebeu que sua identidade estava muito mais ligada a sua pertença a Deus do que a qualquer outra coisa.

Em meio aos nossos simbólicos exílios, nos cabe igualmente, percebermos novos modos de viver nossa fé, entendermos que mesmo neste contexto diferenciado do povo de Israel, Deus se manifesta e se faz presente dentro de cada ser humano.

É oportuno também refletirmos sobre o modo como nos relacionamos com Deus, se apenas interessados em gestos e respostas açucaradas ou se estamos dispostos a assumir de fato, uma aliança que não nos isenta das crises internas ou externas que envolvem nossa realidade, mas que nos garante a certeza de que firmados em um laço concreto com Deus, não daremos espaço ao relativismo ou ao comodismo.

Bibliografia

TILESSE, Caetano Minette de. Revista Bíblica Brasileira. Ano I, Nº III. Fortaleza, Nova Jerusalém, 1984.

TILESSE, Caetano Minette de.Nova Jerusalém, Eclesiologia: Livro Primeiro: Reino de Deus. Fortaleza: Editora Nova Jerusalém, 1986.

*Kelviane Pontes Vieira, Aluna do Bacharelado em Teologia, 1º. Ano, Atividade da Disciplina de Introdução à Sagrada Escritura, Profa. Dra. Aíla Pinheiro.
Fale com a Autora: kelnjlj@gmail.com

“Ai de vós escribas e fariseus… que impõem fardos pesados e difíceis de suportar” (Mt 23,4)

O aluno Deusimar* apresenta alguns paralelos entre as palavras do Papa Francisco e os “Ais” de Jesus contra escribas e fariseus em Mt 23.

Os “Ais” de Jesus contra os escribas e fariseus (Mt 23) encontram eco na homilia do Papa Francisco durante a missa no dia 15 de maio de 2020. Dizia o Papa que nos tempos atuais “vimos algumas organizações apostólicas que pareciam propriamente bem organizadas e que trabalhavam bem, mas todos rígidos, todos iguais um ao outro, e depois soubemos da corrupção que havia dentro, inclusive nos fundadores”.

O Papa não fica simplesmente na percepção a respeito da organização e do bom desempenho de certas instituições católicas, mas aprofunda sua visão – assim como Jesus – mostrando que estas permanecem na superficialidade das aparências, no cumprimento de preceitos e regras –como se fossem, mais ou menos, rituais mágicos – que não apresentam um significado que vá além da epiderme. A grande questão é que esse tipo de vivência acaba por impedir outros de seguirem na liberdade de espírito e no ditame das consciências. Isso acontece com frequência na Igreja, sejam dos mais rígidos, sejam dos mais laxistas. Ambos parecem querer impor seus conceitos de moral aos outros, e acredito que essa não é a nossa função de futuros pastores e nem mesmo de cristãos.

É nisso que se diferencia a radicalidade, no sentido próprio da palavra (“radix”, raiz, profundo) do fanatismo. Uma “pessoa radical”, que tem raízes profundas, ou melhor, que deixou o evangelho aprofundar nas bases mais elementares da sua existência vive e testemunha a mensagem de Cristo e isso atrai, naturalmente, outras pessoas.

Um fanático procura que os outros vivam aquilo que ele achaque deve ser vivido, mas ele mesmo não se esforça viver aquilo que exige dos outros. Esse caminho pode acabar por “fechar as portas do céu” para algumas pessoas que não se enquadram em determinados padrões sociais – e isso acaba por impedir que elas, livremente se entreguem ao Evangelho – e possam ser grandes santos. “Onde abundou o pecado, superabunda a graça de Deus” (Rm 5, 20).

Nenhum preconceito encontra-se apoiado na Palavra de Deus. Isso acaba por impedir o acolhimento da pessoa na comunidade eclesial e impede o acolhimento da Palavra por parte dessa pessoa. Esta acaba por identificar a Palavra com seu opressor, rejeitando-a.

Isso me faz lembrar também das palavras do Papa quando se referia à acolhida – especificamente falava das pessoas com tatuagem, jovens com cabelo colorido etc. Quantas vezes as pessoas tentam dar uma legitimação religiosa aos seus preconceitos sociais. Preconceitos sociais sim, pois nenhum preconceito encontra-se apoiado na Palavra de Deus. Isso acaba por impedir o acolhimento da pessoa na comunidade eclesial e impede o acolhimento da Palavra por parte dessa pessoa. Esta acaba por identificar a Palavra com seu opressor, rejeitando-a.

No começo de seu pontificado, no segundo natal celebrado para a Cúria Romana, em 2014, o Papa Francisco advertiu os membros da Cúria contra 15 doenças espirituais que valem a pena serem relembradas. Especificamente, gostaria de citar a Dura Mentalidade, a Rivalidade e a Vanglória, o Terrorismo das Fofocas, a Cara de Enterro e os Círculos Fechados que parecem se adequar também nos “Ais” pronunciados por Jesus contra os Escribas e  Fariseus e que são facetas desse rigorismo eclesial que muitos tentam impor à Igreja. Para contrapor a esse tipo de mentalidade, na homilia desse 15 de maio, o papa propõe a gratuidade e a gratidão, sair da perturbação à alegria! Faz ecoar uma palavra que ele tanto repetiu na Evangelii Gaudium: “Não deixemos que nos roubem a alegria” (EG 83), nada, nem ninguém… Nem os legalistas, nem os acusadores, nem os caluniadores, nem os fofoqueiros, nem os mentirosos, nem os preguiçosos, nem os clericalistas…

“Não deixemos que nos roubem a alegria” (EG 83), nada, nem ninguém… Nem os legalistas, nem os acusadores, nem os caluniadores, nem os fofoqueiros, nem os mentirosos, nem os preguiçosos, nem os clericalistas…

Evangelii Gaudium, Papa Francisco

Apoiados numa esperança que não decepciona, sigamos em frente!

(*Francisco Deusimar Andrade Albuquerque, Bacharelando em Teologia, 3º Ano, atividade sobre o Evangelho segundo Mateus, Profa. Dra. Aíla Pinheiro).

Farias Brito e Immanuel Kant: questões morais sobre a pandemia

O Prof. Hálwaro Carvalho* diz que a filosofia – cearense e alemã – nos ajuda a pensar na responsabilidade com as ações pessoais e sociais na pandemia.

O coronavírus lança ao mundo o desafio de repensar a sociedade. Duas palavras que se complementam vêm sendo muito utilizadas nesse cenário: moral e responsabilidade. Certamente ninguém estava minimamente preparado para enfrentar essa situação em que estamos e é natural que haja muitas incertezas e angústias. Entretanto, todos, enquanto indivíduos que formam a sociedade, devem medir suas ações e pensar o que estas podem ocasionar aos outros. Questões, como: Posso só ir ali na esquina sem máscara?Ou afirmações do tipo: “Ah, estão querendo restringir minha liberdade”! Ou “Sou novo, se eu pegar eu meu recupero rápido!” fazem parte da esfera moral.

Farias Brito (1862/1917), filósofo cearense, pode nos ajudar a refletir sobre nossas ações em meio a essa pandemia. Para o autor, há duas manifestações fundamentais do espírito humano na marcha geral da sociedade: a Política e a Filosofia. A política fundamenta o Direito. Já a Filosofia resulta na moral, o que nos interessa particularmente aqui. Como agir moralmente nessa nova configuração da sociedade? Que concepção de sociedade deveríamos abraçar? A força motora desse novo corpo social deve advir, diria Farias Brito, das produções do espírito humano. Considerando a moral como o conjunto de princípios pelos quais o indivíduo deve regular sua conduta, é inegável que o fim da moral é prático. Qual conhecimento, assim, poderia nos ajudar a compreender melhor como é formado tais princípios? A Filosofia! Esta, é caracterizada pelo filósofo cearense como àquela esfera do corpo social que cria um sistema moral e que reflete sobre o contexto onde este é formado. As questões morais, hoje, devem levar em consideração o avanço da ciência, da tecnologia e do papel do próprio indivíduo inserido nessa totalidade.

A força motora desse novo corpo social deve advir, diria Farias Brito, das produções do espírito humano.

O isolamento social fez reconhecer que o indivíduo tem em si mesmo os meios de promover seu engrandecimento, estabelecendo que a virtude se adquire pela vontade, pela paciência e sobretudo pela razão. Caso Farias Brito estivesse vivenciando esta pandemia, possivelmente ele poderia nos dizer que o caminho para sairmos melhores seria pensarmos mais sobre as verdadeiras significações da vida, na evolução indefinida do ser humano e na concepção de fim sobre o qual queremos que se encaminhe a natureza. Todas essas questões, inevitavelmente, cairiam num novo sistema moral. Este, poderia ser mais justo e menos desigual.

O isolamento social fez reconhecer que o indivíduo tem em si mesmo os meios de promover seu engrandecimento, estabelecendo que a virtude se adquire pela vontade, pela paciência e sobretudo pela razão.

Outro grande filósofo que pode nos ajudar na compreensão da moralidade e da responsabilidade social que esse tempo, mais do que nunca, nos evoca, é Immanuel Kant. Filósofo alemão do século XVIII, Kant, se destaca quando o assunto é a fundamentação moral do agir humano. Este filósofo encara o prisma moral do ponto de vista universal. Vejamos algumas máximas e depois tentemos refletir com exemplos algumas ações do nosso cotidiano frente à pandemia. Diz Kant: “Age de modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de legislação universal”; “Age de modo a considerar a humanidade, seja na tua pessoa, seja na pessoa de qualquer outro, sempre como objetivo e nunca como meio”. Ora, não são poucos os exemplos que podemos aplicar as máximas de Kant ao nosso contexto. Pensemos e imaginemos a seguinte situação: “Bem, vou à praia tomar um banho de mar, já que não tem ninguém”. Perguntaria Kant: “Essa sua vontade de ir à praia (que funcionaria como uma máxima nesse exemplo) pode ser uma ação que todos podem fazer nesse momento? ” Ou seja, tua vontade pode se tornar um princípio universal? Se a resposta for SIM, sua ação é moral. Já se a resposta for NÃO, sua ação é totalmente egocêntrica, baseada apenas em inclinações subjetivas. Imaginemos outra situação: “Vou tirar um pouco essa máscara no supermercado, estou suando muito”.

 Apliquemos a máxima de Kant: O fato de você tirar a máscara, por pouco tempo que seja, pode ser reproduzido por todos que estão no supermercado? Novamente o critério moral serve de guia na resposta. Claro, as máximas, assim como os exemplos dados, são apenas uma parte da longa teoria desenvolvida pelo filósofo de Königsberg, que revolucionou o pensamento sobre a moralidade e outros pontos que não vêm aqui. Que continuemos, como o filósofo cearense Farias Brito, com a atividade permanente do espírito humano (filosofia) e que ouçamos Kant quando o mesmo diz:  “Sapereaude! Tem a coragem de servir-te de tua inteligência”.

*Hálwaro Carvalho Freire, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, com sanduíche na Martin Luther Universität Wittenberg, professor da Faculdade Católica de Fortaleza – FCF e pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Brasileira.
Fale com o Autor: halwarocf@yahoo.com.br

Entre Sócrates e Epicuro: reflexões sobre a Pandemia

Percorrendo o caminho do imaginário, do autoconhecimento e dos valores da vida, podemos aprender com a filosofia a superação da pandemia.

A pandemia do COVID-19 nos possibilitou um isolamento social. Houve uma profunda mudança de rotina em todas as esferas que envolvem o indivíduo, entre elas, estão: o trabalho, o social e o psicológico. O dever moral de permanecermos em casa traz consigo a reflexão sobre nossos comportamentos e sobre as mudanças que o mundo está passando. A Filosofia, com seus mais de 2.500 anos de história, pode oferecer um alento à nossa alma em tempos tão difíceis. Refletir sobre si mesmo tornou-se quase inevitável. O que será que a civilização da Grécia Antiga ainda tem a nos dizer? Sócrates, filósofo grego, figura principal dos Diálogos de Platão, tinha como missão despertar os indivíduos para o conhecimento de si mesmos.

Para tanto, Sócrates possuía um método, denominado de maiêutica. Em linhas gerais, esse método tinha como objetivo conduzir os jovens a reconhecerem aquilo que seria verdadeiro e legítimo daquilo que seria falso e imaginário. O que estava no centro da questão, portanto, era o autoexame da alma. Não há, talvez, momento mais oportuno para aplicarmos esse método socrático em nossas vidas, uma vez que estamos diante da maior crise sanitária e social vivida pela humanidade no século XXI. Como não refletir sobre o hoje? Como não pensar no dia de amanhã? Como não pensar como você estará quando essa pandemia passar? Aquilo que eu fazia, de fato, poderia me conduzir a uma vida feliz? Enfim, o autoexame da alma se apresenta de maneira imediata quando “perdemos” os vínculos que nos torna humanos. A incerteza dos dias de hoje, assim, nos leva à reflexão de um futuro diferente. Sócrates, que morreu por defender suas crenças, pode nos ajudar a defender e rever as nossas.

O autoexame da alma se apresenta de maneira imediata quando “perdemos” os vínculos que nos torna humanos. A incerteza dos dias de hoje, assim, nos leva à reflexão de um futuro diferente.

No seio das reflexões do mundo de hoje, a temática da felicidade brota de maneira instantânea. Outro filósofo, não tão conhecido como Sócrates, também pode nos ajudar nesse momento de crise, ele se chama Epicuro. Nascido na ilha de Samos, Epicuro acreditava que todos nós poderíamos atingir a felicidade. O problema, segundo ele, é que procuramos nos lugares inapropriados. Não é incomum ouvir nesta pandemia reclamações do tipo: “Muito ruim não poder ir ao Shopping”; “Nossa, eu queria sair para comprar aquele sapato”; “Eu queria tanto ir para um rodízio de massas”.

Não é natural e nem necessário que eu tenha que possuir uma roupa x de uma marca y para alcançar a felicidade, uma vez que estes prazeres não são naturais e nem necessários, eles advêm da sociedade e não do próprio indivíduo.

Podemos retirar muitos ensinamentos de alguns fragmentos escritos por Epicuro ainda no século IV a.c para diminuir certos desejos. O filósofo distingue três tipos de prazeres para alcançarmos a felicidade: prazeres naturais e necessários, prazeres naturais e não necessários e prazeres não naturais e não necessários. Os primeiros tipos de prazeres são aqueles que devemos buscar, por exemplo, se alimentar com dignidade e ter uma vestimenta simples. Já os segundos tipos de prazeres não nos conduzem à felicidade, uma vez que é um desvio dos primeiros, exemplo, comer é um prazer natural e necessário, mas comer num rodízio de massas não é necessário, logo, é um prazer natural e não necessário que, segundo Epicuro, nos conduzem ao vício e à fatalidade do próprio desejo. Por fim, os prazeres não naturais e não necessários devem ser aqueles que mais devemos nos distanciar. Estes, representam o total desvelamento dos primeiros. Não é natural e nem necessário que eu tenha que possuir uma roupa x de uma marca y para alcançar a felicidade, uma vez que estes prazeres não são naturais e nem necessários, eles advêm da sociedade e não do próprio indivíduo.

A humanidade irá superar essa crise e você, enquanto indivíduo, pode superar alguns conflitos internos.

Ora, em tempos de isolamento social, não é possível satisfazermos os prazeres não naturais e não necessários, uma vez que restaurantes e comércios estão fechados. A ótima notícia, poderia dar Epicuro, é que para sermos felizes não dependemos destes prazeres, mas apenas dos naturais e necessários, estes, são bem mais fáceis de se ter em casa. Usemos as “armas” da Filosofia para enfrentarmos esse momento de crise: um autoexame da alma, proposto por Sócrates e os prazeres naturais e necessários apresentados por Epicuro. A humanidade irá superar essa crise e você, enquanto indivíduo, pode superar alguns conflitos internos.

*Hálwaro Carvalho Freire, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, com sanduíche na Martin Luther Universität Wittenberg, professor da Faculdade Católica de Fortaleza – FCF e pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Brasileira.
Fale com o Autor: halwarocf@yahoo.com.br

A filosofia e a aprendizagem além da repetição do discurso

Profa. Raphaela Cândido* terá Tese de Doutorado em Roger Bacon publicada e diz
que o jovem pesquisador não deve se limitar às situações adversas.

Portal Católica – Recentemente, final de 2019, na Universidade Federal do Ceará, ocorreu a Defesa de sua Tese de Doutorado, o que se deu de forma bem sucedida. Do que trata a sua Tese especificamente e qual a sua atualidade para os nossos dias, envolvendo a Filosofia e a aprendizagem?

Raphaela Cândido – A Tese tem como tema “O SENTIDO MORAL DO SABER, NO PENSAMENTO DE ROGER BACON” e procura expor a atualidade das questões que perpassam o ensino e a aprendizagem investigadas pelo filósofo medieval, Roger Bacon. Ao longo de uma vida dedicada aos estudos, Bacon defendeu ser imprescindível a busca do sentido moral do conhecimento. Ele foi radicalmente contra o tratamento dado à Filosofia e à Teologia, nos centros acadêmicos medievais a ele contemporâneos, assim, elaborou um projeto de reforma do currículo a partir da sua compreensão da organicidade do saber e contra uma Filosofia esquartejada que esvaziou de sentido as ciências e transformou os mestres em meros repetidores de discursos perpetuados pela tradição.

Roger Bacon elaborou um projeto de reforma do currículo a partir da sua compreensão da organicidade do saber e contra uma Filosofia esquartejada que esvaziou de sentido as ciências e transformou os mestres em meros repetidores de discursos perpetuados pela tradição.

Profa. Raphaela Cândido

Portal Católica – Sua Tese ultrapassou fronteiras e foi um trabalho acadêmico avaliado e aprovado para publicação. Como você analisa esse reconhecimento científico? Fale também de quem intermediou esse processo e sobre a publicação da obra?

Raphaela Cândido – A sugestão de que a tese deveria ser publicada começou a ser feita pelo Prof. Phd. Thomas Maloney, da Universidade de Lousville, Kentucky, EUA. Ele me acompanhou durante a produção do texto e destacou a importância do livro pela linguagem acessível, o que segundo ele, teria muito a dizer a estudantes iniciantes. Recebi com muita alegria essa avaliação, pois sou professora e escrevo para meus alunos. Depois, a sugestão de publicação foi reforçada na Banca quando da minha defesa. O projeto foi assumido pela Editora Caminhar, uma excelente e criteriosa editora cearense com quem já tive o prazer de publicar. Quanto ao lançamento, pensamos em ocorrer ainda este ano na Faculdade Católica de Fortaleza.

Portal Católica – O convite que recebeste leva o nome da Faculdade Católica de Fortaleza, a única Instituição sul-americana que participará do corpo de membros na sociedade internacional de estudos sobre Roger Bacon. Acreditamos ser uma oportunidade para a experiência de outros jovens docentes. Como analisas essa questão?

Raphaela Cândido – Analiso de forma muito positiva. A Roger Bacon Research Society conta com membros de vários países da Europa – Portugal, Itália, Espanha, Inglaterra -,os EUA e Israel, e agora, o Brasil.

A minha filiação como pesquisadora representa, por extensão, a inclusão da Faculdade Católica de Fortaleza nesse cenário. Acredito que seja incentivo a todo jovem pesquisador para que não se deixe limitar pelas situações adversas que ocorrem num país como o nosso, que não valoriza a pesquisa.

Profa. Raphaela Cândido

Portal Católica – Você foi acolhida como membro dessa sociedade de pesquisadores, como se dará essa relação, as pesquisas e o que elas acrescentam na sua vida?

Raphaela Cândido – A minha atuação como membro da Roger Bacon Research Society me possibilitará a continuidade de meus estudos e produção. Temos encontros virtuais regulares onde as tarefas de leitura, produção e conferências são distribuídas. O contato com pesquisadores renomados só tem a me acrescentar.

Portal Católica – Por fim, muito nos alegramos em saber que a sua obra, uma vez publicada, também será lançada na Faculdade Católica de Fortaleza. O que os alunos, alunas e a comunidade acadêmica podem esperar da sua contribuição literária na área da Filosofia?

Raphaela Cândido – Fazer o lançamento do livro na FCF também me alegrará muito. O que os leitores podem esperar é um texto escrito numa linguagem que respeita o pensamento de Roger Bacon, para quem o saber deve ser partilhado e compreendido de forma orgânica. Como ele, defendo que há uma estreita ligação entre todos os ramos do conhecimento e diferente do que pensavam as mentes obtusas de seu tempo e pensam as do meu, um pesquisador que navega pelos diversos veios do rio do conhecimento não precisa obrigatoriamente ficar na superfície. O livro mostra isso quando apresenta, fundamentado num alicerce que nos é fornecido pela História, a relação entre as várias ciências estudadas pelo frei Roger Bacon, da Matemática à Filosofia Moral.

*Raphaela Cândido Lacerda, doutora em filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2019, escritora, professora e Coordenadora do Curso Propedêutico da Faculdade Católica de Fortaleza.
Entrevista concedida ao Portal Católica de Fortaleza, abril de 2020.
Fale com a Autora: mandarinrb@yahoo.com.br
fcfcomunica@catolicadefortaleza.edu.br / (85) 99855.0456


CNBB emite mensagem na qual pede observação irrestrita às orientações médico-sanitárias

Em decorrência do complexo quadro de pandemia da CONAVID-19 (coronavírus) no mundo e em território brasileiro, a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu dia 14 de março a mensagem: “Tempos de Esperança e Solidariedade”. No documento, organizado em 7 parágrafos, a presidência da CNBB informa que as indicações práticas de cuidado estão sendo emitidas em cada diocese, considerado e respeitando a realidade. A mensagem recomenda atenção e consideração irrestrita às orientações dos especialistas de saúde e autoridades competentes.

“Os cuidados com higienização pessoal e do ambiente, bem como evitar aglomerações são regras que precisam ser seguidas por todos, com irrestrita atenção e cuidados, a partir da própria consciência, regida pelo bom sendo e pela fraternidade”, diz o texto da mensagem.

A mensagem reconhece que algumas restrições mexem com o jeito dos católicos conviver e celebrar, contudo pede que as orientações sanitárias e de saúde sejam acolhidas como uma contribuição tendo em vista o bem de todos. O tempo, segundo o documento, é de intensificar a oração, elevando os corações ao Deus da vida, no acolhimento de sua Palavra e por uma vivência de renúncias neste tempo Quaresmal.

Em tempos de celebração da Campanha da Fraternidade 2020, cujo tema é “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema fala do cuidado, a presidência da CNBB pede disciplina e obediência às orientações e decisões para o “nosso bem”. Conheça a íntegra do documento abaixo.

Tempos de esperança e solidariedade Tudo posso naquele me fortalece! (Fp 4,13).

  1. Diante do complexo quadro gerado pela pandemia do coronavírus, a CNBB manifesta sua palavra de esperança e de solidariedade. As indicações práticas estão sendo emitidas em cada diocese, considerando e respeitando a realidade. Recomendamos atenção e consideração irrestrita dos especialistas de saúde e autoridades competentes. As indicações sobre o modo como celebrar a fé cabem aos bispos em cada diocese. Todas as normas visam à proteção das pessoas, buscando evitar a contaminação e preservar a vida.
  2. Os cuidados com higienização pessoal e do ambiente, bem como o evitar aglomerações são regras que precisam ser seguidas por todos, com irrestrita atenção e cuidados, a partir da própria consciência, regida pelo bom senso e pela fraternidade.
  3. Por isso, é importante que essas orientações sejam acolhidas como uma contribuição em vista do bem de todos. Elas requerem ser acompanhadas de muita oração elevando nossos corações ao Deus da Vida, no acolhimento de sua Palavra e por uma vivência de renúncias neste tempo quaresmal. Em momentos difíceis e delicados como este, mais fortes devem ser nossa fé, esperança e união.
  1. Algumas restrições mexem com o nosso jeito de conviver e celebrar, pois somos um povo que traz em si o desejo de sempre estar juntos, tanto nos momentos alegres quanto tristes. Conscientes de que as restrições ao convívio não durarão para sempre, aprendamos, a valorizar a fraternidade. Aproveitemos para pensar nos inúmeros outros modos em que a vida de pessoas, povos e do planeta vem sendo agredida. Tornemo-nos ainda mais desejosos de, passada a pandemia, podermos estar juntos, celebrando a vida, a saúde, a concórdia e a paz.
  2. Não temamos manifestar a solidariedade e a esperança. Superemos a indiferença. Façamos isso, porém, de modo prudente e em consonância com as orientações sanitárias. São muitos os recursos tecnológicos ao nosso dispor atualmente. Eles podem ajudar a suprir a distância física nesse período de cautela.
  3. Tenhamos igual firmeza para discernir informações, desconsiderando notícias falsas, que se alastram com facilidade. Seu desejo é o de nos enfraquecer e abater. Não hesitemos, portanto, em buscar sempre a verdade das informações. Evitemos que o medo nos torne mais vulneráveis. Deus nunca nos abandona e, nos momentos mais difíceis, nós o podemos sentir ainda mais próximo em seu amor e sua paz.
  4. Por fim, fazendo cada um a sua parte nessa grande empreitada, que é de todos, não deixemos de rezar pelo mundo inteiro, em especial pelas vítimas e pelos profissionais que incansavelmente trabalham por uma solução. Sejamos disciplinados, obedeçamos às orientações e decisões para nosso bem, e não nos falte o discernimento sábio para cancelamentos e orientações que preservem a vida como compromisso com nosso dom mais precioso.

Brasília-DF, 14 de março de 2020

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte-MG
Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima-RR
2º Vice-Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre-RS
1º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro- RJ
Secretário-Geral da CNBB

Fonte: CNBB, 15/03/2020 – MENSAGEM DA PRESIDÊNCIA DA CNBB: Tempos de Esperança e Solidariedade

Relíquia da Cruz de Cristo encontrada na Catedral de Fortaleza será venerada na Quaresma


Na Quarta-feira de Cinzas, 26 de fevereiro, os católicos de Fortaleza (CE) receberam um grande presente: foi-lhes apresentada a relíquia da Vera Cruz, a Cruz de Cristo, encontrada recentemente na Catedral Metropolitana, e que será exposta para veneração durante a Quaresma.

De acordo com a Arquidiocese de Fortaleza, o Arcebispo, Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, anunciou ao final da Missa de Cinzas “que foi encontrara uma Relíquia da Cruz de Cristo no subsolo da Catedral”. Juntamente com a relíquia, foi encontrado o certificado atestando sua autenticidade.

A relíquia da Vera Cruz foi enviada de Roma e recebida em 29 de março de 1928 pelo primeiro Arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes.

O pároco da Catedral Metropolitana de Fortaleza, Padre Clairton Alexandrino de Oliveira, contou a ACI Digital que estão realizando uma grande obra no subsolo do templo, onde há muita coisa antiga. “Tenho o cuidado de examinar tudo e, então, achei dentro de uma caixa um crucifixo de prata e com ele estava a mensagem em latim atestando a veracidade da relíquia”.

A descoberta da relíquia se deu em dezembro passado, “perto do Natal”, recordou o sacerdote. Segundo ele, após comunicar ao Arcebispo, este sugeriu que fosse anunciado aos fiéis na Sexta-feira Santa.

Mas, “sugeri a ele que fizéssemos uma catequese com o povo durante a Quaresma, aproveitando para fazer a Via Sacra, meditar, e o Arcebispo concordou”, contou Pe. Clairton.

Desse modo, a relíquia foi apresentada aos fiéis na Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, e durante todo este tempo litúrgico será exposta para veneração todas as quartas-feiras e sextas-feiras, “no horário da morte de Cristo, ou seja, às 15h”, quando será rezada a Via Sacra.

“Esta é uma oportunidade extraordinária que a providência divina nos dá nesse mundo de tanto relativismo. É oportunidade para meditarmos sobre o verdadeiro significado da redenção, de pensarmos até onde foi o amor de Deus por nós, que deu seu Filho na Cruz para derramar seu sangue por nós. No altar da Cruz, a morte foi derrotada e a vida teve a vitória”, expressou o pároco.

Para o sacerdote, poder venerar a relíquia da Vera Cruz durante a Quaresma é um convite a “viver bem” este tempo litúrgico. “Devemos passar pela cruz e assumir a cruz para, com Cristo, alcançarmos a vitória”, completou.

Relíquia da Vera Cruz

Ao ressaltar que a relíquia encontrada na Catedral de Fortaleza é “atestada pelo Vaticano”, Pe. Clairton recordou que a Cruz de Cristo foi encontrada por volta do ano 326, em Jerusalém, por Santa Helena.

Escritores antigos, como São Crisóstomo e Santo Ambrósio, narraram que, depois de realizar muitas escavações, foram encontradas três cruzes.

Sem saber qual era a de Jesus, levaram até o Monte Calvário uma mulher agonizante e, ao tocá-la com duas das cruzes, nada lhe ocorreu. Mas, ao tocá-la com a terceira cruz, a enferma se recuperou instantaneamente.

Macário, então Bispo de Jerusalém, Santa Helena e milhares de fiéis levaram a cruz em procissão pelas ruas da cidade.

Parte da Cruz ficou em Jerusalém e outros fragmentos foram levados a Roma e, mais tarde, distribuídos a outros locais, tendo um deles sido enviado à Fortaleza na década de 1920.

Fonte: ACI Digital , 27/02/2020, Fortaleza.