Como a Ciência e a Filosofia podem nos orientar em tempos de relativismo?

Prof. Halwaro Freire* diz que em tempos de relativismos, faz-se
necessário explicitarmos o papel da verdade no desenvolvimento da sociedade.

Em tempos de inquietações e dúvidas sobre o papel da Ciência na sociedade por parte de alguns, a Filosofia, que tem como principal característica o pensar crítico-argumentativo, pode nos orientar a elucidar algumas dessas questões. Longe das imagens do senso comum de um indivíduo no “mundo da lua” fazendo perguntas sem sentido (filósofo) ou de um sujeito de jaleco branco dentro de um laboratório “mirabolando” teorias (cientista) essas duas esferas do saber são essenciais num mundo onde as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que uma notícia verdadeira (2017, p.12). Tanto a Filosofia como a Ciência são áreas em que um determinado indivíduo ou grupo se especializa, apura, refina, averigua e elabora um conhecimento com base em argumentos, experiências, princípios e conceitos a fim de formularem teorias sobre aquilo que se debruçaram.

“A opinião que temos sobre um determinado
assunto, sem a devida apuração e argumentação,
não faz parte de um conhecimento científico e
e nem filosófico”

Certamente, um tocador de piano conhece mais seu próprio instrumento que um médico que não toque, por exemplo. Este último, domina as técnicas que se especializou durante as pesquisas. Não se quer aqui que se pense que o tocador de piano é superior ou melhor do que o médico, apenas queremos fazer notar que ambos possuem um conhecimento: apurado, refinado, averiguado e elaborado sobre sua área de atuação. Ora, a Filosofia e a Ciência são áreas que também se debruçam sobre seus objetos e que formam um conhecimento sobre os mesmos. Ambas, Ciência e Filosofia, “partem” de uma visão do senso comum da realidade, ou seja, da visão menos apurada da realidade, menos refletida e mais prática. Contudo, essas áreas do saber começam a elaborar um tipo de conhecimento que possui um grau de reflexão e investigação mais aprofundado.

“Não nos deixemos enganar, o que é produzido pela
Ciência não pode ser refutado com um simples
ceticismo e o que é escrito por um(a) filósofo(a)
não é apenas uma mera afirmação”.

A opinião que temos sobre um determinado assunto, sem a devida apuração e argumentação, não faz parte de um conhecimento científico e nem filosófico. Muitas vezes, quem profere a simples afirmação “Não existe aquecimento global, pois onde estou está frio” não utiliza os critérios mínimos de verdade da Ciência, como os já mencionados acima. Porém, afirmações como estas estão cada vez mais comuns. Alicerçados pelas plataformas digitais, como, facebook, instagram ou whatsapp, muitas informações sem a devida apuração, argumentação e reflexão, características das formas de saber científico e filosófico, se propagam numa velocidade sem freio. Não nos deixemos enganar, o que é produzido pela Ciência não pode ser refutado com um simples ceticismo e o que é escrito por um(a) filósofo(a) não é apenas um mera afirmação. Cabe ao filósofo e ao cientista a missão, mais uma vez, difícil, de demonstrar que seus conhecimentos “servem” para desenvolver uma sociedade e que a negação simplista destas áreas apenas adoecem uma cultura.

REFERÊNCIA: CHALMERS, A.F. O que é Ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense. 1993.
NELSON, J. L.Is ‘fakenews’afakeproblem? Columbia JournalismReview, 31.2017.

Hálwaro Carvalho Freire, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, com sanduíche na Martin Luther Universität Wittenberg, professor da Faculdade Católica de Fortaleza – FCF e pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Brasileira. Atualmente é pós-doutorando pela Universidade do Porto (Portugal).
Fale com o Autor: halwarocf@yahoo.com.br